09 de janeiro de 2019
É com muito pesar que noticiamos o óbito de nossa colega Selma Maria Dias Santos, professora aposentada do Instituto de Ciência e Tecnologia dos Alimentos (ICTA). Vítima de uma parada cardíaca, Selma faleceu aos 79 anos, na madrugada de 28 de dezembro. Pesquisadora e professora, Selma participou ativamente do movimento docente na UFRGS desde seus primórdios, no final dos anos 1970. Entre aqueles que com ela conviveram, será sempre lembrada pela sua simpatia, irreverência e otimismo.
Professora e pesquisadora engajada
Selma diplomou-se farmacêutica-química pela UFRGS em 1964. Estudante destacada, no ano seguinte concorreu e foi contemplada com uma bolsa de aperfeiçoamento concedida pelo Conselho de Pesquisas da UFRGS. Em seguida, foi contratada como Técnico Especializado em Bioquímica do ICTA (então ITAL) e, em 1971, como professora do Departamento de Ciências dos Alimentos. Em 1975, concluiu o Mestrado em Farmácia na UFRGS com a apresentação da dissertação intitulada “Sínteses de derivados de Pirazolo – [3, 4 –d]-Piramidina”, orientada por Matthias Schmitz.
Ministrou as disciplinas de Microbiologia de Alimentos, Bromatologia e Química de Proteínas, dentre outras. Orientou vários bolsistas de Iniciação Científica e de Especialização, realizou pesquisas sobre a qualidade dos alimentos comercializados em Porto Alegre, estudou e divulgou achados sobre o efeito de aditivos naturais e químicos nas propriedades dos alimentos. Participou de convênio do ICTA com a Campanha Nacional da Alimentação Escolar (CNAE), para controle microbiológico dos alimentos servidos na merenda escolar de vários Estados.
Nos anos 1980, esteve entre os pioneiros nos estudos sobre a presença do glúten em alimentos e fármacos no Brasil. Em 1988, durante licença-prêmio, realizou estágio no Instituto Nacional de Bromatologia e Farmacologia na Argentina, para estudo de técnicas de detenção da presença de glúten em alimentos industrializados. Foi sócia fundadora da Associação dos Celíacos do Brasil – Seção Rio Grande do Sul (ACELBRA-RS), criada em 1991.
Numa época em que as possibilidades de doutorado no país eram restritas, Selma solicitou afastamento para estudos e não obteve autorização.
Também não teve oportunidade de ser professora Titular, pois não havia vagas nem concursos na unidade em que lecionava.
Aposentou-se em 1991 como Professora Adjunta 4, que era então nível imediatamente inferior ao de Professor Titular. Como muitos outros aposentados na mesma condição, sofreu graves prejuízos com a desestruturação da carreira empreendida a partir de 1998, e agravada em 2006 e 2008, quando acordo entre governo e Proifes estabeleceu índices variados de reajuste, conforme o nível, regime de trabalho e titulação.
Militante do movimento docente
Desde os tempos de estudante, Selma já era atuante. Participou de Congressos Nacionais de Estudantes de Farmácia, em 1961 e 1962.
Nos anos 1970 e 1980 participou como representante docente, da Congregação e, posteriormente, do Conselho Departamental do ICTA.
Participou do I Congresso Nacional da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior (ANDES, precursora do Sindicato Nacional) em 1982 e em vários outros eventos nacionais.
Atuou no Conselho de Representantes e em Grupos de Trabalho da ADUFRGS e, em 2008, participou ativamente da luta para que esta permanecesse filiada ao ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. Rejeitando o cisionismo do Movimento Docente, aderiu desde o primeiro instante ao processo de reorganização e fortalecimento da Seção Sindical do ANDES-SN. Participava das Assembleias e mantinha contato com a diretoria, sempre manifestando dúvidas, interrogações, acordos, nuances e diferenças. Eram valiosos subsídios que contribuíam de forma saudável ao pluralismo da entidade. No último dia 21 de novembro, Selma se fez presente na atividade comemorativa dos “40 anos de ANDES na UFRGS”. Manifestou felicidade em estar com amigos e colegas e reafirmou sua apreensão e irritação com a desestruturação da carreira e com os ataques às universidades públicas.
Partida
Selma deixou companheiro, filha e três netos, a quem manifestamos nossa solidariedade neste momento difícil.
Cumprindo desejo antigo, seu corpo foi doado à Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), para estudos e pesquisas e como contribuição à formação profissional dos estudantes do curso de Medicina daquela instituição.
Sua filha Carla postou bela mensagem que reproduzimos: “Dolorosamente, participo a todos que ela faleceu nessa madrugada. Mesmo que com muito pesar, mas fielmente cumprindo uma antiga vontade dela, devidamente documentada, encaminhamos seu corpo para servir à ciência. Apesar da demora no processo de doação, o que inviabilizou o cerimonial que gostaríamos de ter feito, tudo transcorreu conforme ela desejava, os netos e eu juntos a ela nos seus últimos momentos. Apesar da nossa dor, encontramos conforto em pensar que ela continuará fazendo o que sempre amou fazer, agora de outra forma, a sua paixão por educar. Agradecemos as orações de todos”.
O Movimento Docente, colegas e amigos da Selma sentirão falta de seu sorriso, de sua franqueza direta. Sua defesa da independência sindical, seu apego ao caráter público da UFRGS e sua paixão por educar e servir à ciência continuarão a nos inspirar!
Seção Sindical ANDES/UFRGS 