28 de março de 2019
Poucos dias após o massacre na escola Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), comunidades acadêmicas de três universidades públicas brasileiras foram alvos de ameaças e mensagens de ódio, entre elas a UFRGS.
Em Porto Alegre, a Reitoria da UFRGS identificou, na semana passada, ameaças de atentado no campus do Vale. Mensagens localizadas em plataformas de conversas mencionavam um suposto ataque, alegando segurança falha. A universidade acionou o setor de segurança da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), das polícias Federal e Civil e da Brigada Militar, e também reforçou sua segurança interna.
No mesmo dia (20/3), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) divulgou nota informando que recebeu “mensagens em tom ameaçador”. Anônimo, o agressor supostamente é um aluno reprovado no sistema de cotas da instituição, que, por e-mails, afirmou que iria atirar em pessoas que fazem parte da comissão, ligadas à comunidade acadêmica.
No comunicado, a UFMG informou que identificou o IP da conexão (endereço de Protocolo da Internet) de onde as ameaças foram enviadas, o qual foi repassado à Polícia Federal.
No dia 21, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) confirmou a veracidade de uma carta encontrada em um dos banheiros do campus Uvaranas, cujo autor afirmou que cometeria “a maior execução de alunos já vista em todo o mundo”. A universidade solicitou o reforço da vigilância interna e acionou os órgãos de segurança externos. “A Polícia Civil enviou dois investigadores que estão trabalhando no caso. As câmeras de segurança estão sendo analisadas para confirmar o fato e identificar a autoria. Há carros da polícia e agentes de segurança interna fazendo vistorias no Campus neste momento”, diz texto institucional.
Em 2018, no período das eleições, as comunidades acadêmicas das universidades Federal (UFPE) e Estadual de Pernambuco (UPE) também foram alvos de ataques. No texto, são listados nominalmente mais de 15 professores, em sua maioria do curso de Sociologia, e diz-se que seriam banidos da universidade em 2019. Na UPE de Nazaré da Mata ocorreu o mesmo: um bilhete afirma que o espaço Paulo Freire passaria a se chamar espaço Coronel Ustra, em referência ao primeiro militar a ser reconhecido pela justiça como torturador.
Mobilização da comunidade da UFRGS
Na quarta-feira (20), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRGS emitiu nota exigindo a segurança de toda comunidade acadêmica da Universidade. “Queremos estudar e trabalhar sem medo”, diz o texto, que ainda demanda a investigação e a responsabilização dos eventuais responsáveis. Nesta quarta-feira (27), o DCE anunciou o adiamento da festa Vale dos Bixos 2019/01, e anunciou que segue pressionando a Reitoria a respeito das investigações e medidas de sugurança.
O Sindicato dos Técnico-Administrativos da Universidade (ASSUFRGS) também se posicionou publicamente, afirmando que irá cobrar que o caso das ameaças contra a UFRGS seja resolvido, e os responsáveis, presos o mais breve possível.
O ANDES/UFRGS também reivindica que a comunidade universitária seja informada acerca das investigações e do encaminhamento das medidas preventivas. Reiteramos também a demanda de que seja reconstituído o quadro de vigilantes próprios da Universidade, reduzido nos últimos anos por medidas do governo federal. Tal reconstituição é necessária para que a segurança dos campi seja garantida por servidores devidamente concursados e treinados, e com respeito à autonomia da Universidade.
Busca por ajuda
A violência em ambiente universitário tem alertado a comunidade internacional. Reportagem da Agência Pública, especializada em Jornalismo Investigativo, aponta que há oito meses, a organização Scholars at Risk (Acadêmicos em Risco, em português), nos Estados Unidos, tem sido procurada por professores brasileiros que se sentem inseguros em território nacional. Trata-se de uma rede de instituições de ensino superior formada por 520 universidades, como a Universidade de Washington, a Universidade do Chile e a City University, em Londres, que promove a liberdade acadêmica, ajudando pesquisadores e professores ameaçados de morte a sair de seus países por um tempo.
Até o ano passado, apenas um brasileiro tinha contatado a organização. Agora, já são 18. Os candidatos do Brasil relatam instabilidade, medo de serem detidos ou presos, assédio e medo de serem mortos ou desaparecerem. “À luz da mudança na narrativa política e cultural no país, muitos acadêmicos decidiram deixar o Brasil para continuar o seu trabalho fora do país por medo”, explica Madochée Bozier, assistente do programa de proteção a professores universitários.