14 de fevereiro de 2019
A Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) e a diretoria da Aprofurg repudiaram publicamente os ataques à dissertação de mestrado de Diego Miranda Nunes, que apresentou resultados de pesquisa sobre tema relacionado às sexualidades. O trabalho teve orientação da professora doutora Susana Maria Veleda da Silva – do Programa de Pós-graduação em Geografia da Fundação Universidade de Rio Grande (PPgeo – FURG).
O caso ganhou repercussão nacional depois que o vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, publicou em seu Twitter a imagem do trabalho acadêmico, criticando o fato do aluno receber bolsa de Mestrado e gerar uma pesquisa sobre o tema.
Em nota, a AGB afirma que o espaço geográfico é produzido e vivido por diversos grupos sociais, muitos dos quais identificados como minorias no que diz respeito às liberdades e direitos socialmente garantidos. “Tais grupos são comumente marginalizados e invisibilizados na produção do conhecimento e nos diversos desdobramentos políticos que se articulam a partir da produção e hierarquização dos saberes. Entender que as formas e possibilidades de apropriação, pertencimento, existência e sobrevivência no espaço geográfico não são homogêneas e tampouco igualmente garantidas para os diferentes grupos sociais, já é internacionalmente ponto pacificado na ciência geográfica”, afirma o texto da entidade.
Contra o preconceito
Para a Associação, não se pode mais alegar ignorância acerca da importância de campos do saber voltados à compreensão da diversidade de fenômenos socioespaciais que são definidores de relações de poder no espaço geográfico. “É um grande desserviço para a ampliação das fronteiras dos saberes, científicos ou não, a invisibilização, bem como os ataques preconceituosos e obtusos, aos estudos acerca das diversas formas e estratégias de articulação de grupos que já sofrem com a marginalização da sociedade”.
Segundo a nota, está sendo feito um patrulhamento ideológico em torno de sujeitos considerados ‘inimigos sociais’, entre os quais se enquadram docentes, pesquisadores e ativistas de movimentos sociais. “Vivemos sob a ameaça da censura em salas de aula, dos cortes de direitos sociais, cidadãos e trabalhistas, entre outros. Além disso, estamos assistindo – e com esse manifesto, reagindo – às tentativas de deslegitimação e mediocrização da ciência, dos diversos espaços e diversas vertentes de produção de saberes, e da reflexão crítica e intelectual – seja ela acadêmica ou não.”
A diretoria da Seção Sindical do ANDES na Furg se colocou à disposição não apenas do autor da dissertação e da orientadora, como de todos que são vítimas de perseguição e censura em suas atividades acadêmicas, “reforçando assim a defesa intransigente da pesquisa científica livre, bem como da autonomia universitária, da liberdade de cátedra e da democracia”.
Em meio à propagação de mensagens agressivas e preconceituosas, diversas pessoas responderam à postagem de Carlos Bolsonaro defendendo o trabalho do mestrando. Uma delas foi a professora universitária Rosana Pinheiro-Machado, da UFSM, recentemente denunciada por citar Paulo Freire em sala de aula.