24 de janeiro de 2019
Os estudantes universitários colombianos estão em greve desde o dia 11 de outubro de 2018. Eles lutam pelo aumento da verba das universidades públicas, exigindo 3,2 bilhões de pesos para o funcionamento das instituições (equivalente a R$ 4,1 milhões) e outros 15,2 bilhões de pesos (R$ 16,9 milhões) para quitar as dívidas já existentes das universidades.
A educação superior na Colômbia apresenta um déficit há mais de 25 anos, que corresponde a cerca de US$ 1 bilhão no orçamento do setor. Desde 1992, a promulgação da Lei 30 vem gerando um buraco fiscal, porque os recursos das universidades passaram a aumentar de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor, e não pelas necessidades reais – seja em aumento de vagas ou em formação e profissionalização do corpo docente e administrativo.
Ao mesmo tempo, os governos anteriores e o atual têm atuado a favor do desfinanciamento através de programas que transferem recursos públicos a instituições privadas de ensino. “Isso gera pressões de meritocracia, exigindo das universidades padrões e aumento do acesso sem dar o orçamento necessário para que a qualidade possa ser uma realidade”, analisa Sarah Klinger, porta-voz da União Nacional de Estudantes de Educação Superior (UNEES) do país, em entrevista ao ANDES-SN.
Segundo a aluna, que cursa Ciência Política na Universidade de Cauca, apesar do movimento ser direcionado ao incremento de verba, a mobilização não está restrita ao orçamento. “A nossa luta está enfrentando o terror do neoliberalismo, colocando em debate público o modelo de educação com o qual sonhamos. É a educação pública, gratuita, de qualidade e anti-patriarcal, a serviço da nação. Do outro lado está a educação mercantil e a serviço do mercado, que é o que defende atualmente o governo nacional”.
A paralisação, iniciada a partir de decisão tomada no Encontro Nacional de Estudantes de Educação Superior local, foi acolhida em 57 instituições de ensino superior, privadas e públicas. No dia 10 de outubro, mais de 500 mil pessoas saíram às ruas, entre estudantes, trabalhadores e famílias, a favor da greve nacional por tempo indeterminado.
“Já organizamos nove manifestações depois do início da greve”, conta a estudante, lembrando que também foram feitas ações como ocupação de praças e edifícios emblemáticos, além de acampamentos universitários e fechamento de ruas.
Negociação insuficiente
As conversas com o governo nacional duraram um mês e meio. “Delas, conquistamos, com satisfação, o aumento da base orçamentária por quatro anos. O aumento será de 4,5% além da inflação. Isso representa a possibilidade de investir na contratação e na formalização do corpo docente, em assistência estudantil, etc. No entanto, consideramos que, como movimento estudantil, temos a tarefa de aumentar o orçamento das universidades em 3,2 bilhões de pesos (R$ 4,1 milhões), que serviria para garantir projetos de gratuidade da educação superior pública. Garantiria também que tivéssemos mais força para enfrentar a batalha ideológica contra a forma neoliberal que o governo pensa a educação superior na Colômbia”, avalia Sarah.
Novo ato público está agendado para 17 de janeiro, com objetivo de defender a gratuidade, a universalidade e a qualidade para as universidades colombianas. “Para isso precisamos que a sociedade tenha garantia de poder manifestar-se. Exigimos o desmonte do Esquadrão Móvel Anti Distúrbios – o esquadrão da morte da polícia, que cumpre um papel repressor usando a força de maneira excessiva. Esse esquadrão já deixou mortos e feridos e tem enfrentado o movimento estudantil”, finaliza a manifestante.
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