24 de janeiro de 2019
Nos pífios seis minutos de seu discurso em Davos, o presidente Jair Bolsonaro declarou a subserviência de seu governo ao agronegócio, ao grande empresariado e ao capital financeiro, prometendo facilitar o desmatamento, além de reduzir impostos, leis trabalhistas e o controle sobre investimentos estrangeiros e privatizar, colocando o Brasil entre os “50 melhores países para se fazer negócios”.
As Universidades públicas não foram contempladas no discurso.
Nenhuma menção à pesquisa no país
Nenhuma palavra foi usada para mencionar a pesquisa em Ciência e Tecnologia. Segundo relatório divulgado pela Capes em janeiro de 2018, o Brasil foi o 13º entre os países que mais publicaram artigos científicos entre 2011 e 2016. A produção de C&T está concentrada nas universidades públicas; a indústria responde por apenas 1% dessa produção. Mas o presidente declara: “Queremos parceiros com tecnologia para que esse casamento se traduza em progresso e desenvolvimento para todos“, ignorando a pesquisa local e o necessário aporte de recursos para que ela se desenvolva com autonomia e soberania.
Nenhuma palavra sobre as metas para Educação
O Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece metas a serem alcançadas até 2024. Elas incluem a universalização da educação infantil e do ensino fundamental, ampliação do ensino médio até 85% da faixa etária e um terço dos jovens com 18 a 24 anos, sendo pelo menos 40% das novas matrículas no segmento público até 2024 (Meta 12). O ANDES-SN defende a ampliação dos recursos para a educação, e que recursos públicos sejam exclusivamente destinados à educação pública, garantindo a universalização do acesso ao ensino em todos os níveis.
A Emenda Constitucional 95/16 – que congela os gastos com serviços públicos e prioriza o pagamento dos juros da dívida – inviabiliza o cumprimento das metas e prepara o colapso das redes de ensino e das universidades públicas.
O presidente Bolsonaro declara que irá “promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria”. Porém, não menciona metas nem medidas que possam evitar esse colapso.
A ideologia do Estado mínimo
“Bolsonaro representou bem a ideologia do estado mínimo em Davos, fazendo o discurso de abertura mais curto da história do conclave capitalista. Nervosíssimo, limitou-se a repetir promessas de campanha – agora para o planeta ouvir – e evitou fazer declarações comprometedoras, seguindo estritamente o roteiro escrito pelo über-entreguista Guedes”, avalia o docente Jorge A. Quillfeldt, do Departamento de Biofísica da UFRGS, que atualmente é professor visitante na Universidade McGill, no Canadá.
“Com uma ‘colinha’ nas mãos, não deu nenhuma resposta concreta a uma breve e camarada sessão de perguntas, mas convidou todos a passarem suas férias no Brasil… Bolsonaro aproveitará sua primeira viagem ao exterior para participar também de um fórum paralelo anti-Davos organizado por Steve Bannon, onde deve receber mais instruções: ainda bem que já tinha explicado que ‘agora, na política externa, o viés ideológico deixará de existir’”, completa Quillfeldt.
Resistência necessária
O discurso também não mencionou a reforma da Previdência, decepcionando “o mercado”, segundo a grande imprensa. Cabe ao movimento sindical e popular articular e fortalecer a mobilização nas próximas semanas para enfrentar o ataque que certamente virá.