25 de outubro de 2018
Em transmissão ao vivo na última terça-feira (23/10), o jornalista Juremir Machado, da Rádio Guaíba, pediu demissão do programa Bom Dia em função de censura durante entrevista com o candidato Jair Bolsonaro. O candidato aceitou falar, por telefone, apenas para o âncora Rogério Mendelski, e os demais integrantes da bancada tiveram que permanecer calados durante toda a entrevista.
“O silêncio de vocês foi uma condição do candidato, que queria conversar com o apresentador”, disse Mendelski no ar a três colegas, após se despedir de Bolsonaro, que concedeu entrevista por 30 minutos. “Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui dez anos”, declarou Juremir. O jornalista, que também é formado em História e pós-doutor em Sociologia pela Universidade de Sorbonne, na França, além de autor de 27 livros e coordenador do curso de pós-graduação em Comunicação da PUC do RS, levantou e saiu do estúdio.
Intimidação não foi a primeira
As exigências de Bolsonaro em relação à imprensa não começaram com o episódio vivenciado por Juremir. O jornalista Glenn Greenwald, reconhecido internacionalmente por sua atuação como repórter investigativo e ganhador de prêmios como Pulitzer e Esso, denunciou estar sofrendo perseguições, assim como seus familiares, por parte de integrantes da campanha do PSL e da equipe de Edir Macedo –, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário da Record e suas afiliadas, inclusive a Rádio Guaíba –, que declarou voto aberto e apoio ao candidato de direita. O site de Greenwald, The Intercept, publicou matéria sobre como jornalistas dentro do R7, canal de notícias do bispo, “são reféns de sua agenda, impedidos de publicar matérias negativas sobre Bolsonaro e completamente forçados a sacrificar sua integridade jornalística a serviço da agenda política extremista de Macedo”.
O artigo, assinado por outro jornalista – que também passou a sofrer ataques diretos e à sua família –, foi redigido a partir de relatos e depoimentos anônimos de repórteres. “O R7 e outros jornalistas da máquina do Bispo Macedo começaram a lamentar, sob proteção do anonimato, que foram transformados de jornalistas a reféns disseminadores de propaganda em favor de um candidato visto crivelmente por amplos setores como fascista. Foi nesse contexto que o Intercept pôde publicar uma reportagem sobre o funcionamento interno do R7 e as fortes pressões às quais seus jornalistas estão submetidos, sendo forçados a distorcer a verdade e produzir propaganda pró-Bolsonaro e antipetista”, explica o editor norte-americano, que também é advogado.
“Uma coisa é o bispo Macedo usar sua fortuna e seu império de mídia para eleger um extremista. É outra coisa completamente diferente que ele explore e abuse de seus veículos de mídia – sua TV é uma concessão pública – para intimidar, investigar e ameaçar jornalistas pelo crime de publicar reportagens críticas sobre ele e Bolsonaro. Isso representa uma ameaça séria à liberdade de imprensa: é virtualmente impossível praticar jornalismo sobre Bolsonaro se sabe-se que a imensa fortuna e os veículos midiáticos do bispo Macedo serão usados para caluniar e intimidar não somente os jornalistas responsáveis, mas também suas famílias”, avalia Greenwald.